segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tudo na vida...

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos
portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.
 


Fernando Namora, em "Mar de Sargaços" 1819-1889

sábado, 19 de junho de 2010

cascas, talvez?

Eu logo tracei um perfil dela: estudiosa, perfeccionista (e por isso um pouco chata) e honesta. Dele eu não pude dizer muita coisa, porque ele ficou o tempo todo gastando energia tentando ser legal. Preferia ter visto o rosto verdadeiro, mas não consegui. E tiveram as outras pessoas, observei-as uma a uma, traçando todos os perfis bem detalhados. Eu simplesmenete adoro quando o tempo passa e eu me descubro completamente enganada sobre todo mundo, é o que eu mais gosto. As pessoas usam cascas, vestem máscaras e gastam bastante energia diária tentando ser outras coisas, mas é infalível: vem o tempo e mostra tudo. Fico pensando, o que será que vêem em mim e na minha casca?

                                                                                                  Para A.T

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Between the lines.

Cause i can't continue pretending to choose this opposite sides on which we fall, the loving you laters if at all, no right minds could wrong be this many times. My memory is cruel: I'm queen of attention to details, defending intetions if the fails. until now, he told me her name, it sounded familiar in a way I could have sworn i'd heard him say in ten thousand times. Ohh if only i had been listening!Leave unsaid, unspoken. Eyes wide shut, unopened. you and me, always between the lines. 


But I’ll never see anyone else. I only see you. Even when I close my eyes and try to see something else.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Há molduras que esperam. Ou não.

Não sei se é nos seus olhos, se é no medo, se é nos meus pensamentos egoístas, ou se é no caminho até você que eu estou perdida. Mas eu estou. Você tem as palavras preferidas dos meus ouvidos, só que eles estão um pouco fechados, surdos talvez. Há muito resquício de tudo nas minhas mãos, na minha vista falha, no meu coração pequeno e mesquinho. Tenha calma, porque eu já tive pressa das coisas e a pressa leva ao fim. Medo, pressa, angústia... É tudo feito de fim. O fim é um quadro triste pendurado na estante. A moldura não é bela: ela é de madeira ou de pedras brilhantes. E no fim, o que vemos é a terra em cima de nossos corpos silenciosos. Não faça silêncio, ele será abundante. Seja apenas o meu mapa, mesmo que você precise dele às vezes. Eu serei o seu também, mesmo que ele não leve a lugar algum.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Vez ou outra acordo num susto. É aquele velho medo de estar viva. Todo mundo sabe que eu tenho isso. Parece loucura, mas é muito sã. Eu tenho medo de estar viva, porque morrer parece fácil. Puff, acabou. Estar viva é uma coragem. Os sonhos me apavoram. Digo sonhos desses de alcançar. Apavoram porque podem vir amanhã, ou podem nunca vir. E tem também as perdas. Dia se ama, dia não. E se eu amar, mas de repente não amar mais? Não foi de repente que do silêncio fez-se o pranto? E se meu barulho também virar pranto? E se? Lá vou eu questionar tudo. É o medo, quando se tem esse medo todo que eu tenho, tudo parece uma grande bobagem, tudo parece faz-de-conta, não é possível que nada disso seja real. Será que quando se realiza um sonho, no dia seguinte se continua vivendo? Como é a vida após o sonho? Ela existe?